Pesquisar este blog

terça-feira, 31 de março de 2009

Pessoas ofendidas

Há pessoas que se sentem ofendidas por qualquer coisa. Para dizer uma coisa a elas, temos que dar uma enorme volta, rodear, fazer um preâmbulo enorme antes
de falar. Se dissermos a elas que erraram em alguma coisa, parece o fim do mundo.
Saem batendo os pés, ficam dias sem nos falar, maquinando uma vingança.
Conheço homens e mulheres que se sentem ofendidos por banalidades. Já
participei de inúmeras reuniões em que diretores discutem como dizer uma coisa
verdadeira e necessária a um subordinado sem que ele se sinta ofendido. “Ele é uma
pessoa muito difícil. Sente-se ofendido por qualquer coisa e demora meses para
voltar ao normal”, me disse um diretor sobre seu gerente. “Minha secretária é ótima,
mas quando digo que ela errou, vira um bicho ofendido, sai pisando duro e fica até
malcriada”, me disse um presidente.
Quantas pessoas você conhece que se ofendem com exagerada facilidade?
São maridos e esposas; amigos e colegas de trabalho; chefes e subordinados para
quem temos enorme dificuldade em dizer alguma coisa sem melindrar, ofender.
O problema é que com o passar do tempo, as pessoas desistem de dizer a
verdade a esses ofendidos. Com esse comportamento, essas pessoas ofendidas
acabarão sendo vítimas de falsidade e mentiras, pois que ninguém mais arriscará
lhes dizer uma verdade com receio da reação que sempre tiveram ao serem
criticadas. Aceitar críticas sem se sentir ofendido é, pois, essencial para o sucesso.
Não será só pelos elogios que recebemos, que melhoraremos nossas atitudes e
comportamentos. Se você tem dificuldade em aceitar críticas sem se ofender, mude
antes que seja alvo de mentiras e falsidades.
Pense nisso!

Luiz Almeida Marins Filho, Ph.D.
(22 a 28 de março de 2009)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Ciúme: dá para controlar?

Um sentimento ligado ao amor, mas que freqüentemente traz dor e angústia, o ciúme é o medo de se perder alguma coisa – um receio de que o ser amado se dedique a outro, por exemplo.

Na Filosofia, o ciúme aparece sempre no contexto de uma discussão geral das paixões, em especial daquelas ligadas à amizade e ao amor.

E aí há dois grupos distintos: os que acreditam ser preciso extirpar as paixões, já que não podemos controlá-las, e aqueles que afirmam ser possível e vantajoso governá-las por meio da razão. A forma como devemos lidar com o ciúme, de acordo com a Filosofia, vaga entre estas duas linhas.

A origem etimológica da palavra ciúme vem do latim zelumen e do grego zelos, por isso, muitas vezes ele é encarado como uma prova de amor, de cuidado com o outro. E daí vem grande parte da controvérsia sobre ser o ciúme algo bom ou ruim, já que, em excesso, ele pode trazer sofrimento tanto para quem o sente quanto para quem é vítima desta paixão.

Em geral, as reflexões filosóficas sobre o ciúme o aproximam do amor e do ódio. É o que aparece nas Máximas de La Rochefoucauld, quando este diz que “o ciúme sempre nasce com o amor, mas nem sempre morre com o amor”. (Máxima, 361). Esta frase aponta para o caráter ambivalente do ciúme: começa visando um valor positivo, mas pode se converter na adesão a um valor negativo.

É possível dizer que o ciúme tem, inicialmente, uma aparência louvável, por ser natural ao sentimento de amor. “Gostar de alguém ou de alguma coisa implica zelar por sua segurança ou por sua continuidade. Seu caráter ‘zeloso’, porém, facilmente se converte em um sentimento negativo, ao adquirir uma forma possessiva que suprime o caráter positivo desta ‘afeição’, resultando em egoísmo e prepotência ou em insegurança e temor”, afirma Carlos Matheus, doutor em Filosofia e professor titular do Departamento de Filosofia da PUC-SP.

Segundo Descartes, o ciúme tanto pode ser positivo quanto negativo. É positivo quando é apenas zeloso e o que se procura preservar é de real importância, e negativo quando está associado ao egoísmo ou à insegurança.

Já Espinosa entende o ciúme como algo apenas negativo: é uma tristeza decorrente da ameaça de uma perda. Mesmo dizendo que o ciúme está relacionado ao sentimento do amor, diz que se converte em ódio sempre que a relação amorosa parece ameaçada. Espinosa acrescenta o seguinte aspecto negativo ao ciúme: o ciumento tende a adquirir aversão pela pessoa amada.

Medo irracional

Os estóicos, de acordo com o que escreve Diógenes Laércio em Vida e obra dos filósofos ilustres (Cap. VII), incluíam o ciúme entre as “contrações irracionais da alma”. Referindo-se a uma obra de Crisipo sobre as paixões, Diógenes afirma que o ciúme está entre os temores relacionados à expectativa de um mal que escapa ao controle da razão.

Descartes dizia que o ciúme é uma espécie de temor relacionado ao desejo que se tem de conservar a posse de algum bem

Descartes também enfatiza o lado irracional do ciúme: “o ciúme não decorre da força das razões que permitem julgar que este bem possa ser perdido e sim de uma suposição que faz a respeito do que se julga que pode ser perdido” (Descartes, Tratado das Paixões, art. 167). No mesmo Tratado, Descartes define o ciúme como “uma espécie de temor relacionado ao desejo que se tem de conservar a posse de algum bem”.

Para Matheus, Espinosa vai além de Descartes, ao aproximar o ciúme da inveja, dizendo ser “um sentimento simultâneo de amor e de ódio acompanhado da idéia de outro de quem se tem inveja” (Ética, III, Escólio da Proposição 35).

Espinosa define a inveja como sendo “uma tristeza
diante da felicidade de alguém” (Ética, III, 23), sendo o ciúme resultante da “imaginação de que a coisa amada se une a outro, de modo a impedir fruí-la sozinho” (Ética, III, Proposição 35).

O ciúme tem sido relacionado, em várias ocasiões, à inveja por ser um sofrimento decorrente do sentimento de inferioridade em relação a alguém. Como a inveja, o ciúme também provoca sofrimento em quem não se sente merecedor de algum prêmio, conquista ou aquisição.

Os pensadores do século XVIII mantiveram esta visão. O ciúme como sendo um modo pelo qual o ser humano se coloca em inferioridade em relação aos demais. Este é o ponto de vista de Adam Smith, exposto em sua Teoria dos Sentimentos Morais e de Immanuel Kant, em suas Lições de Ética. “Embora não se refiram especialmente ao ciúme, ambos apontam a inveja como uma conduta na qual há um desejo de alterar a relação entre sua felicidade e a dos outros. Seria possível aplicar ao ciúme o que diz Kant da inveja: um modo irracional de querer ser feliz”.

Só o Romantismo irá quebrar essa visão racionalista a respeito do ciúme. Surge a paixão romântica, na qual o amor rima com a dor, como duas faces do mundo emocional. “Há uma canção popular na qual se expressa esta visão romântica do ciúme: ‘o ciúme é o perfume da flor, o ciúme é o queixume da dor’”, comenta Matheus. Para o Romantismo, o ciúme tanto faz parte das emoções como também dos sofrimentos que cercam os sentimentos humanos.

Na vida ou na arte não faltam exemplos de histórias sobre ciumentos. É um sentimento que aparece com freqüência nas relações humanas, quer seja nas relações amorosas entre homem e mulher como também nas lutas pelo poder político, nas disputas econômicas e nos congressos científicos. Nas relações familiares são freqüentes as cenas de ciúmes, especialmente entre irmãos, como aquela narrada pela Bíblia, entre Caim e Abel.

Os amantes trazem muitos problemas ao amado, que estariam ligados a uma paixão excessiva que se traduziria em ciúme
“Seria possível, também, dizer que até os deuses experimentam o sentimento do ciúme, como teria sido o caso do castigo sofrido por Prometeu. O ciúme de Menelau, face ao rapto de Helena, por Páris, teria sido a causa da Guerra de Tróia. E várias tragédias de Shakespeare ou de Racine revelam sua presença como um fator oculto de caráter emocional, tornando quase sempre ausentes as condutas racionais”, menciona Matheus.

O ciúme também é tema recorrente dentre os filósofos que estudam as paixões e as emoções humanas. Ele é discutido, por exemplo, no Fedro, diálogo no qual Platão se refere aos conflitos entre amantes, nos quais o ciúme os torna violentos, criando uma relação semelhante ao modo como o lobo ama o cordeiro.

O Discurso de Lísias

Fernando Santoro, professor da Faculdade de Filosofia da UFRJ, explica que neste diálogo, Fedro e Sócrates estão lendo o discurso de um amigo, chamado Lísias. Este havia escrito um pequeno discurso sobre o amor e levantado a tese de que é mais conveniente para o amado ter uma relação amorosa com alguém que não é amante (que não o ama) do que com alguém que é amante (que o ama de verdade). Isto porque os amantes trazem muitos problemas ao amado. E esses problemas estariam ligados a uma paixão excessiva que se traduziria justamente em ciúme. De acordo com o raciocínio de Lísias, o aman te muito apaixonado começa a tolher as amizades do amado, a querer o amado só para si, a não querer que ele pareça belo ou bom, justamente porque isso vai atrair a atenção dos outros. E ele acaba sendo prejudicial ao amado, porque é demasiadamente apaixonado por ele.

Sócrates irá se contrapor a Lísias. “Ele vai dizer que a situação apaixonada do amante não é necessariamente prejudicial e nem todo mundo que está apaixonado e em delírio, de alguma forma, é alguém que age de modo ruim. Ele vai fazer um elogio, não apenas da condição apaixonada, mas também da condição delirante, que em determinadas situações faz que os homens pratiquem coisas melhores do que simplesmente contidos na razão”, explica Santoro.

A idéia do filósofo ateniense é mostrar que a paixão não necessariamente cria a situação do ciúme, de um amor doentio. Para Sócrates, a paixão pode ser positiva, alguma coisa que traz bens da ordem do divino, do sobrenatural, do mais que humano, diz Santoro. O que não quer dizer que Sócrates faça uma apologia ao ciúme. Pelo contrário. “O ciúme ali foi descrito como ações que prejudicam o amado. Sócrates, sem dúvida, não seria alguém que elogia o ciúme”, diz.

Visão de Freud

Freud classifica vários tipos e graus de ciúme. o primeiro seria o ciúme devido à concorrência com o rival, que inclui uma ferida narcísica. esse tipo se deve mais a uma questão de narcisismo, de se perder o ser amado, e de uma competição pessoal com o outro – de modo que, num aspecto ou no outro, o que está em questão é mais o amor próprio do que o amor ao outro, explica André Martins, filósofo e psicanalista, doutor em Filosofia e em teoria Psicanalítica e professor associado da UFRJ, onde coordena o Grupo de Pesquisas Spinoza & Nietzsche.

O segundo tipo seria o ciúme originado da projeção no outro de seus próprios desejos de infidelidade, realizados ou não. Algo como: se desejamos ter outras relações, supomos, inconscientemente, por uma projeção paranóide, que o outro deseja o mesmo. Já o terceiro tipo, que Freud considera delirante, descreve Martins, teria como origem uma homossexualidade negada, como uma forma de se dizer, inconscientemente, que não é ele que ama o rival, mas ela.

“O que Freud diz do ciúme, assim como o que espinosa diz, constituem abordagens preciosas, embora breves, da questão que, certamente, merece uma reflexão maior. Afinal, é um incômodo afeto que causa muito mal a todos nós em qualquer cultura e época da história”, diz o filósofo e psicanalista.

Paixões

Sócrates não condena as paixões e, sim, a exacerbação do ciúme – uma das paixões. Santoro explica que sempre que a Filosofia pensou o homem, a constituição do humano, especialmente da alma humana, as paixões entraram como um lugar de problematização importante. Isso desde o início da Filosofia. “Se há uma coisa que sempre se percebeu – e os filósofos sempre atentaram para isso – é que a natureza humana é constituída também das paixões, de como ela é afetada pelo mundo e de como ela responde ao modo como ela é afetada”, explica.

O conceito de paixão como sofrimento ou como algo que nos atinge vindo de fora tem sua origem na Grécia antiga. Os gregos denominavam pathos toda força ou ação externa ao sujeito que provoca neste uma redução de sua capacidade de agir, explica Matheus. Enfim, ‘pathos’ é o mesmo que ‘dor’. E toda dor, admitia-se, tem sempre alguma origem externa à vontade. Referências às paixões humanas encontram-se tanto em Platão e Aristóteles quanto entre os epicuristas e os estóicos.

Epicuro foi um filósofo que se dedicou especialmente ao tema, por partir do pressuposto de que a vida humana é fundamentalmente marcada pela dor. Para os latinos – como Cícero, por exemplo – as paixões são entendidas como afecções (affectio), isto é, como efeitos externos que causam perturbações ou comoções decorrentes de condutas contrárias à razão.

O significado desta palavra só vai ser alterado no Romantismo – assim como a conotação ambivalente e fugidia que o ciúme adquire, como mencionamos acima quando se atribui às paixões o sentido de emoções intensas ou profundas que impulsionam a vontade em busca de metas visíveis ou remotas. Como diz Hegel, “sem paixão não se faz história”. Esta herança romântica permanece no vocabulário contemporâneo. “No período atual, paixão conserva um significado ambíguo, como se encontra em Jankélévitch e Sponville. Paixão ficou mais próxima da virtude e mais distante da dor”, explica Matheus.

Toda essa discussão sobre o conceito de paixão para falar sobre o ciúme se justifica porque vão existir, na história da filosofia, dois modelos de pensamento: um vai condenar as paixões, tentar abolilas – estando o ciúme aí incluído –, e outro, na linha contrária, irá defender a moderação destas, isto é, chegar a uma medida que não seja excessiva e nem também faltosa. Este último é o modelo aristotélico, por exemplo. Ou o modelo do tipo socrático ou platônico, em que a razão governa as paixões. Isto é, as paixões a serviço da razão. A razão pode tanto determinar o momento de maior paixão quanto de menor paixão de acordo com o que ela entenda que seja o melhor, o mais virtuoso.

Os estóicos, em oposição, acreditam que as paixões perturbam a alma e que a virtude se alcança por uma exclusão, extirpação do afeto, das paixões. Segundo os estóicos, “a virtude consiste em não se deixar atingir por temores ou esperanças externas”, explica Matheus.

Na Filosofia moderna e contemporânea tem sido enfatizada a anterioridade e até mesmo a independência do mundo emocional em relação à razão. “O que se diz é que os sentimentos positivos, como o amor, a alegria e o prazer, e também os sentimentos negativos, como o ódio, a tristeza e a dor, escapam ao controle da razão”, afirma Matheus.

O Ciúmes em Machado de Assis e Shakespeare

Obra do realismo brasileiro, Dom Casmurro (1899), de Machado de Assis, é um dos célebres exemplos da literatura em que o ciúme apresenta-se como tema preponderante.

O narrador-personagem, Bentinho, acredita, sem ter certeza, que a esposa capitu, a mulher com “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, o teria traído com seu melhor amigo, escobar. Mesmo depois de morto o amigo, o ciúme torna-se a obsessão e faz que Bento odeie o filho, que tem muitas semelhanças com seu amigo, e mande capitu para a europa, onde também morre.

Usando de intertextualidade, Machado de Assis traz como exemplo em sua obra outros casos de ciúme na literatura universal, como em Otelo, o mouro de Veneza, obra de shakespeare.

O narrador se coloca no lugar de otelo, um general ciumento, e compara capitu a Desdêmona, a esposa de otelo, que era suspeita de tê-lo traído, mas na verdade não o traiu. Por causa das tramas de seu alferes, Iago, otelo desconfiou de um romance entre a esposa e cássio. otelo então a mata, mas depois de descobrir a verdade, mata a próprio.

Afetos passivos

André Martins, filósofo e psicanalista, doutor em Filosofia e em Teoria Psicanalítica e professor associado da UFRJ, explica que para a tradição filosófica todos os afetos eram considerados paixões: afetos passivos, contrários à razão e, portanto, como seu negativo, seu oposto, não podendo por ela serem pensados. Ele menciona, como exemplo, Descartes, que considera que as paixões são idéias tornadas obscuras e confusas pela intromissão do corpo junto ao pensamento: “onde o corpo age, a alma padece, e vice-versa”, diz ele. Para que a alma pense com clareza, crê Descartes, é preciso “pensar de forma isolada dos afetos”.

Espinosa concordará com essa idéia. Quando pensamos sob o efeito de afetos passivos nossos pensamentos serão obscuros e confusos. Contudo, isso não se deve aos afetos em geral, pois buscar pensar sem eles, ou de uma forma dissociada, é buscar pensar de forma separada da realidade, o que é efetivamente impossível, consistindo em um erro da mente e gerando idéias falsas sobre as coisas. “A moral em geral baseia-se nesse erro, que Nietzsche chamou de uma tentativa de ‘corrigir’ a existência. A idéia é que não adianta maldizer a natureza humana, afetiva e passional, mas compreendê-la para tirar melhor proveito dela”, explica Martins.

No caso do ciúme, a relação com a razão só pode se dar tardiamente, após sua percepção e sua vivência. “É claro que uma postura emocional equilibrada envolve sempre uma disposição da mente para assumir o controle de suas emoções, justificando ou superando seus efeitos opressivos, seja por meio de processos de sublimação como também por meio de um ajustamento da vontade ao plano dos conceitos racionais, tal como Kant os indica, em sua Teoria da razão prática. Enfim, a interpretação racional das paixões é um traço do pensamento iluminista que se perdeu com o romantismo”, explica o professor.

Superação do ciúme passa por investigar sua origem

É sempre possível investigar racionalmente – ao sentir ciúme – a origem do temor diante da ameaça de perda. Mais do que possível, é necessário. Isto porque é preciso saber se o ciúme envolve algum valor positivo ou valor negativo. segundo Descartes, o ciúme tem caráter positivo quando se aproxima da noção de “zelo”, quando se trata de conservar algo de grande importância, como a riqueza ou a honra. será negativo quando se aproxima da avareza, do egoísmo ou de mera insegurança pessoal, explica carlos Matheus, doutor em Filosofia e professor titular do Departamento de Filosofia da Puc-SP.

Sendo positivo, o ciúme pode justificar uma ação destinada a impedir a perda. sendo negativo, cria a necessidade de buscar um valor equivalente ao qual se possa recorrer para substituir o que se está na iminência de perder. “Quando negativo, o ciúme pode ser decorrente de uma baixa auto-estima e, neste caso, a investigação deve começar pelo exame que o ciumento deve fazer de si mesmo. Ninguém está isento do ciúme – como uma paixão e como sofrimento – mas todos podem superá-lo buscando dentro de si algum motivo para atribuir a si próprio um valor equivalente àquele que se vê em risco, sob a ameaça da perda”, diz Matheus.

Quanto mais seguros nos sentimos a respeito de nós mesmos ou de quem somos ou do valor que temos, menos corremos o risco do ciúme. No entanto, sempre estamos sob o risco de perdas. Assim como toda perda entristece, viver pressupondo perdas significa uma vida bastante infeliz, explica o professor do Departamento de Filosofia da Puc-SP. Do mesmo modo, viver sob a pressão do ciúme é viver sem liberdade ou sob pressão. No fundo, todas as perdas são dolorosas e causam tristeza, mas saber superá-las é uma das grandes lições da Filosofia estóica.

Neste ponto, Matheus lembra as palavras de epiteto: “só somos livres nos ocupando das coisas que só dependem de nós” (Pensamentos, I). o ciúme, neste caso, ocorre quando sofremos por causas que não dependem de nós. A Filosofia, mesmo sem pretender ser edificante, pode indicar o caminho da sabedoria de que fala Aristóteles, mostrando como as paixões podem ser conduzidas pela “sabedoria prática”. (Ética a Nicômaco, X, 8).
Patrícia Pereira

Jealousy - Ciúme


Oh how wrong can you be?
Oh to fall in love
Was my very first mistake
How was I to know
I was far too much in love too see?
Oh jealousy look at me now
Jealousy you got me somehow
You gave me no warning
Took me by surprise
Jealousy you led me on
You couldn't lose you couldn't fail
You had suspicion on my trail

How how how all my jealousy
I wasn't man enough to let you hurt my pride
Now I'm only left with my own jealousy

Oh how strong can you be
With matters of the heart?
Life is much too short
To while away with tears
If only you could see
Just what you do to me
Oh jealousy you tripped me up
Jealousy you brought me down
You bring me sorrow you cause me pain
Jealousy when will you let go?
Gotta hold of my possessive mind
Turned me into a jealous guy

How how how all my jealousy
I wasn't man enough to let you hurt my pride
Now I'm only left with my own jealousy
But now it matters not
If I should live or die
'Cause I'm only left with my own jealousy

Oh como você pode estar errado?
Oh a cair no amor
Era meu primeiro grande erro
Como eu ia saber
Eu era estava muito apaixonado, viu?
Oh ciúme, olhe para mim agora
Ciume, você começou de algum modo
Você não me deu nenhum aviso
Me pegou de surpresa
Ciúmento você conduziu-me
Você não poderia perdê-lo, não poderia falhar
Você suspeitou da minha fuga

Como como como todo meu ciúme
Eu não era homem bastante para te deixar ferir meu orgulho
Eu estou sozinho agora somente com meu próprio ciúme

Oh, como você pode ser forte
Com matérias do coração?
A vida é muito curta
Quando afastado com rasgos
Se somente você poderia ver
Apenas o que você me faz
Oh ciúme, você deu rasteira em cima
Ciúme você me deixou para baixo
Você me traz a tristeza, você me causa dor
Ciúme, quando você irá embora?
Começou à preensão de minha mente possessiva
Me envolvendo em um ciúme ridículo

Como como como todo meu ciúme
Eu não era homem bastante para te deixar ferir meu orgulho
Eu estou sozinho agora somente com meu próprio ciúme
Mas agora não importa se eu viver ou morrer
Por isso estou sozinho somente com meu próprio ciúme

Freddie Mercury

O que é liberdade?


Muitos filósofos têm escrito sobre a liberdade. Falamos sobre liberdade — liberdade para fazer o que quisermos, para ter o emprego de que gostamos, liberdade para escolher uma mulher ou um homem, liberdade para ler qualquer livro, ou liberdade para não ler absolutamente nada.

Somos livres, e o que fazemos com essa liberdade? Usamos essa liberdade para nos expressarmos, para fazer aquilo de que gostamos. A vida está se tornando cada vez mais permissiva — você pode fazer amor no parque ou no jardim.

Temos toda espécie de liberdade, e o que temos feito com ela? Pensamos que onde há escolha há liberdade. Eu posso ir à Itália ou à França: é uma escolha. Mas a escolha dá liberdade? Por que temos que escolher? Se você é realmente lúcido, tem uma compreensão exata das coisas, não há escolha. Disso resulta uma ação correta. Apenas quando há dúvida e incerteza é que começamos a escolher. A escolha, então, se vocês me permitem dizê-lo, constitui um empecilho para a liberdade.

Nos estados totalitários não há liberdade alguma, pois eles têm a idéia de que a liberdade produz a degeneração do homem. Portanto, eles controlam, reprimem — vocês sabem o que está acontecendo.

Então, o que é liberdade? É algo que se baseia na escolha? É fazer exatamente o que queremos? Alguns psicólogos dizem que, se você sente alguma coisa, não deve reprimi-la ou controlá-la, mas deve expressá-la imediatamente. Jogar bombas é liberdade? — veja apenas a que reduzimos a nossa liberdade!

A liberdade está lá fora, ou aqui dentro? Onde você começa a procurar pela liberdade? No mundo exterior — onde você expressa o que quer que você queira, a tal liberdade individual — ou a liberdade começa dentro de você, para então se expressar inteligentemente fora de você? Compreendeu a minha pergunta? A liberdade só existe quando não há confusão dentro de mim, quando, psicologicamente, religiosamente, não há o perigo de eu cair em nenhuma armadilha — você entende? As armadilhas são inúmeras: gurus, sábios, pregadores, livros excelentes, psicólogos e psiquiatras — tudo armadilhas.

E se estou confuso e há desordem, não preciso, primeiro, me livrar dessa desordem antes de falar em liberdade? Se não tenho nenhum relacionamento com minha mulher, com meu marido, ou com outra pessoa — porque nossos relacionamentos são baseados em imagens — surge o conflito, que é inevitável onde há divisão. Então, não deveria eu começar por aqui, dentro de mim, na minha mente, no meu coração, a ser totalmente livre de todos os medos, ansiedades, desesperos, e das mágoas e feridas de que sofremos por causa de alguma desordem psíquica? Observe tudo por si mesmo e livre-se disso!

Mas, aparentemente, nós não temos energia. Nós nos dirigimos aos outros para que nos dêem energia. Falando com o psiquiatra nós nos sentimos aliviados — a confissão e tudo o mais. Sempre dependendo de alguma outra pessoa. E essa dependência, inevitavelmente, causa conflito e desordem. Então, temos de começar a compreender a profundeza da liberdade; precisamos começar com aquilo que está mais perto: nós mesmos. A grandeza da liberdade, a verdadeira liberdade, a dignidade, a sua beleza, está em nós mesmos quando a ordem é completa. E essa ordem só vem quando somos uma luz para nós mesmos.

Krishnamurti

terça-feira, 24 de março de 2009

Somos prisioneiros de nossas emoções?


Ah, se fossemos feitos só de razão seria tudo tão mais fácil, simplesmente decidiríamos por quem nos apaixonar, ou decidiríamos quem gostaríamos de esquecer e afastar de nossas vidas.

Reduziríamos a enorme tensão que sentimos todos os dias ao nos desgastarmos com coisas tão pequenas e saberíamos lidar com mais tranquilidade com os grandes desafios.

Mas não somos só razão.

Muitas vezes, a despeito do que nos diz a razão, nos percebemos aprisionados a quem não nos merece, sofrendo por motivos que até nós achamos pequenos e tendo atitudes que não fazem sentido algum. Muitas vezes sentimos coisas que não gostaríamos de sentir, momentos nos quais nos perguntamos em silêncio se um dia seremos capazes de sentir as coisas de outra forma, sentir mais carinho, mais leveza, mais compaixão. Um dia você olha no espelho e descobre que vem desperdiçando tempo e energia com questões pequenas, com pessoas que não merecem sua atenção, com medos que consomem sua alegria e podam sua espontaneidade.

Será possível nos libertarmos dessas emoções que nos fazem sabotar o que de mais lindo existe em nós? Que faz com que tenhamos atitudes de traição para com nosso próprio Eu? Poderemos um dia controlar essa avalanche de emoções que perturbam nossa paz?

Claro que é possível!

Leva tempo, requer autoobservação, paciência, trabalho árduo e perseverança. Requer um profundo desejo de nos tornarmos alguém melhor. Requer a mesma cuidadosa dedicação que um ourives demonstra ao lapidar um diamante. Mas vale a pena, acredite. Depois de tanta fricção, aquilo que é precioso em nós vai surgindo. Um brilho aqui, outro lá... E um dia, se não desistirmos, conseguimos finalmente olhar para o mais lindo diamante pousado no centro de nossas mãos. Nosso próprio Eu.

Ouça, você não é essa emoção que chega de repente querendo tomar as rédeas da sua vida. Você não é essa onda de raiva que te faz querer destruir tudo, não é o ciúme que fragiliza suas relações, não é o medo paralisante que torna você menor do que o seu real tamanho.

Isso tudo pode vir a você, mas você não “é” isso.

Não é sábio entregar-se cegamente a uma emoção

Você pode mudar em profundidade a sua vida. Você pode mudar a si mesmo. Mas para que isso aconteça, precisará lembrar-se de seu verdadeiro Eu. Precisará aprender a suspeitar de suas emoções. Não é sábio entregar-se cegamente a uma emoção. Muitas vezes elas tornam você cego e surdo, elas iludem você e fazem com que tenha atitudes das quais se arrepende depois. Aprenda a observar as emoções em você, sem misturar-se com elas.

Saia do Eu, olhe para você e seus sentimentos na 3ª pessoa

Olhe para as ondas emocionais como você olha para o clima. Surgem nuvens, você as observa. Chove, você observa. Faz sol, você observa. Observa e compreende que tudo passa.

Aprenda a observar em quietude até que aquela a emocional passe, atravesse você. E depois, centrado, em paz, aprenda com essa passagem.

Você não é a raiva, não é o ciúme, não é a paixão.

Você é o observador pacífico que vê tudo isso passar.

Não entregue-se ao que sente. Una razão e emoção. Aprenda a questionar a si mesmo. Eu sei, parece difícil, mas é uma questão de prática. Nós não fomos ensinados a nos ver como sábios. Não fomos ensinados a observar nosso próprio Eu. Nem mesmo conhecemos nosso próprio Eu.

Desconfie das suas emoções, elas são superficiais, como uma fina camada de água gélida na superfície de um mar de calor e compaixão.

Mergulhe para além das aparências e você encontrará a sua verdade e a sua paz.
Patricia Gebrim